Acabo de ler o livro “Arte de Amar” do poeta romano Ovídio, mas fiquei com leve amargo na boca.
Trata-se de um grande poema dividido em 3 livros com conselhos dirigidos para homens e mulheres, mas essencialmente aos homens, aprenderem a técnica de seduzir e, se possível, fazer perdurar o amor.
Compreendo que a época e a sociedade em que Ovídio viveu eram muito diferentes da nossa. Até ressalto que há passagens bem atuais – há conselhos que considero válidos. No entanto, rapidamente me apercebi que este texto não é nada favorável às mulheres. Mas não quero enveredar por assuntos feministas. Afinal, segundo dizem, em sua época Ovídio era um dos poetas mais atentos aos sentimentos e “direitos” da mulher.
O sabor amargo é por perceber que o amor que ali é tratado não é o amor romântico do qual estamos acostumados a lidar, da melhor ou da pior forma, nos dias atuais. Embora eu bem soubesse que o amor que hoje conhecemos é oriundo de um tempo mais recente, admito que fui incauta por pensar que ali eu encontraria alguma docilidade, apesar de haver algumas vênias que lembram, lá longe, o estilo do amor romântico.
A meu ver, a riqueza deste poema não reside exatamente na sua intenção de aconselhar (didática), mas na composição (estética), na frequente citação de personagens mitológicos e, sobretudo, no que podemos saber dos usos e costumes da Antiguidade.
E eu pergunto, existirá receita para a arte de bem-amar ou “Amar se aprende amando”?
Imagem: Idylle - William-Adolphe Bouguereau